
Aproximadamente 600 pessoas de toda a Europa aderiram oficialmente ao Santo Daime, religião brasileira organizada em torno da ingestão de uma potente bebida psicoativa chamada ayahuasca.
Os membros do Santo Daime (chamados fardados) frequentam regularmente cerimônias onde bebem ayahuasca enquanto meditam, cantam e dançam por entre 6 e 12 horas.
Considerando a ayahuasca um poderoso “alucinógeno”, a maioria dos governos europeus respondeu prendendo e processando pessoas que se envolvem em rituais do Santo Daime. Destacando a Bélgica como referência cultural da Europa, esta dissertação persegue a seguinte questão:
Residindo em um meio social dominado pelo secularismo e pelo cristianismo dominante, por que alguns europeus estão adotando as práticas espirituais do Santo Daime?
O “laico” designa os aspectos da vida social que não envolvem qualquer recurso a entidades sobrenaturais. Ao longo da segunda metade do século 20, a maioria dos cientistas sociais acolheu a secularização progressiva como um substituto inevitável para as religiões em declínio na Europa.
Recentemente, uma antropologia emergente do secularismo enfatizou como a institucionalização do desencanto materialista tende a excluir ideias alternativas sobre a natureza da mente e da realidade. As conversões para religiões transnacionais pressagiam mudanças mais profundas na forma como alguns europeus estão se adaptando a um mundo cada vez mais interconectado.
O esclarecimento desse processo é importante porque os estudiosos ainda precisam explicar por que alguns ocidentais estão fazendo escolhas religiosas pouco ortodoxas na era da secularização.
Durante o trabalho de campo, Perguntei aos informantes por que haviam se tornado fardados. As respostas coletivas são resumidas por um fardado belga que disse: “Santo Daime é a chave para muitas soluções”.
Fardados consideram a ayahuasca como um sacramento medicinal (ou “enteógeno”), que os ajuda a curar várias doenças, como depressão, ansiedade social e dependência de álcool/drogas. Meus informantes entendem a prática do Daime como uma forma de misticismo, em que o ritual enteogênico atua como uma espécie de tecnologia introspectiva (o que chamo de “suiscópio”).
Estudos empíricos corroboram a afirmação dos fardados de que a ayahuasca é benigna e pode ser benéfica quando empregada em contextos rituais. Uma das funções essenciais da antropologia é tornar as diferentes lógicas culturais mutuamente explicáveis. De acordo, Blainey, MG (2014).
O Santo Daime, uma religião brasileira organizada em torno de uma potente bebida psicoativa chamada ayahuasca, agora está sendo praticada em toda a Europa e América do Norte.
Considerando a ayahuasca um perigoso “alucinógeno”, a maioria dos governos ocidentais processa as pessoas que participam do Santo Daime. Pelo contrário, os membros do Santo Daime (chamados de “daimistas”) consideram a ayahuasca um sacramento medicinal (ou “enteógeno”).
Estudos empíricos corroboram a afirmação dos daimistas de que os enteógenos são benignos e podem ser benéficos quando empregados em contextos controlados. Partindo do objetivo da antropologia de tornar as diferentes lógicas culturais mutuamente explicáveis, este artigo intervém em um mal-entendido entre políticas de proibição e uma emergente subcultura de terapia enteogênica.